quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Estória de Natal

"Era meia noite, o sol brilhava no horizonte..."
Era só um pobre homem, que de seu não tinha nada; era cego de um olho, em compensação faltava-lhe o outro; não tinha perna direita, porém tinha duas esquerdas e tortas; nascera sem a mão esquerda e, como era canhoto, perdera a mão direita, por falta de jeito; Como era mudo, seu pai um dia pensou que ele não respondia por falta de educação e lhe deu dois pescotapas no pé d'oreia, deixando-o surdo. Um dia, sentindo o cheiro de queca no ar, percebeu que era natal...

Seu coração se encheu de alegria e ele, mesmo estando nu, pensou com seu botão: "preciso comprar um presentinho para minha mulher e meus filhos", mesmo que não os tivesse. Mulher ele quase teve, mas ela o abandonou porque ele nunca usava a aliança. "É porque eu nao tenho braços..." ele tentara argumentar, ao que ela respondera: "Desculpa de aleijado é muleta, isso é golpe de joão-sem-braço!" e foi embora para nunca mais, antes que tivesse qualquer chance de tentar encomendar qualquer filho; só dois meses depois é que foi sorteado no consórcio do Viagra...
Dirigindo-se à Savassi, percbeu que não tinha nem um tostão furado no bolso, e nem bolso. Como não falava, tentou usar um olhar pidão para comover as pessoas e ganhar um dinheirinho. Esbarrou na primeira pessoa que achou e ficou lá, olhando com cara de pateta, mas o Roberto Drumond, todo bronzeado, nem se mexeu. Quando se deu conta da frieza do rapaz, saiu caminhando até esbarrar em uma senhora que lia. Para chamar-lhe a atenção, tentou cutucar-lhe o ombro com o nariz, no que ouviu um grito: "tem um tarado pelado beijando o pescoço da Henriqueta Lisboa!!!" - e a turba, enfurecida, desceu-lhe o cacete. Correndo, desorientado, foi para o meio da rua e, apesar do sinal fechado, foi atropelado por um motoboy que que passava no "corredor". Consternado ao ver a pobre figura estendida no asfalto, o motoqueiro exclamou, compungido: "Fiadaputa!", acertando-lhe a testa, ui festa, com o capacete.

Já mal se agüentando, ele persistiu. "Inês Istente, minha filhinha, Hernandez Aparecido, meu filho, este natal não vai passar em branco!", prometeu em silêncio. Escurecia. A estrela Vésper surgia no horizonte. Escutando ao longe as canções natalinas, Juntou suas últimas forças, ajoelhou-se, ergueu as mãos aos céus e, olhando para a estrelinha, bradou uma singela oração:
"Estrelinha que pisca, pisca
Quem não arrisca não petisca
Quem não rela, não trisca
Você é uma boa bisca
Acabou a rima
Me ajuda eu aí, ôu!"
E então desfaleceu jogado na sarjeta. Exatamente à meia-noite, foi acordado pela enxurrada. Levantando os olhos cheios d'água, pois chovia torrencialmente, e viu, ali, junto a sua face, aquela botinha toda preta, lustrosa, de bico arredondado...
Tomado de emoção, balbuciou, em êxtase:
- És tu, Papai Noel?
- Papai Noel é a puta que te pariu, viado!!! - respondeu o PM irado, dando-lhe um chute na boca e arrancando seu último dente...
A todos meus votos de um Feliz Natal e um Ano Novo de arrebentar!!!



terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Eu sei, eu sei, estou atrasado...

Antes de mais nada, assisti, domingo último, ao filme Stardust, com roteiro do Neil Gaiman(Blog); o cara é realmente um gênio, sem falar do Robert De Niro, hilário como Capitão Shakespeare. Para quem gosta de contos de fadas sem a esterilização Disney, é imperdível...



E com o natal chegando, vou retomar a tradição do Dr. Galery e publicar a Estória de Natal, devidamente contextualizada e atualizada; aguardem só um ou dois dias...


P.S.: Como Vocês devem ter percebido, estou desenferrujando meu skills HTML...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Dez encontros (velha novidade)

Encontro com o Caio, que é pai da Cecília, com a Regina, que é professora da Cecília, com o Tiago, que é casado com a Regina, com Fedo, que é aluno do Tiago, com o Vítor, que é primo do Fedo, com a Ana Cecília, que é mãe do Vítor, que foi colega do Berê, que é primo do Guigui, que é primo da Aninha, que é prima do Tiago, que é professor do Caio, que foi colega da Ana Cecília, que é amiga da Aninha, que é prima... Aranje como quiser, ad infinitum. Somos todos, amigos, colegas, parentes, cônjuges, professores, alunos, clientes...
Belo Horizonte é mesmo um ovo... e eu até que gosto disso.

(Des)Encontros

A gente se encontra de repente no mesmo espaço... Não sei o que fazer. Fico parado, olhando, a garganta travada. Quem sabe se olhar para mim, eu tento cumprimentar e vejo sua reação. Mas só vejo um contrangimento que desvia seu olhar para longe. Parece que estou no ignore list IRL. Posso imaginar um sem número de motivos para isto, mas gostaria de saber quais deles são reais... Peço um café, que deixo esfriar com medo de segurar a xícara com a mão trêmula. Finalmente tomo o café, pago e vou embora, sabendo somente que o que quer que fosse, agora ficou pior.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Poesinha

Engasgo



Quando tento te falar no amor
A palavra já nasce morta
Como lágrima abortada
E sepultada
No dorso
do dedo
Seu nó

Meu peito, meus olhos
Minha boca fecham luto
Dor prima, divisível
Por um
Por si
E só

Nos meus ouvidos
O silêncio parvo
Das batidas
Do Coração
Disparado
No peito